eJournals Vox Romanica 79/1

Vox Romanica
vox
0042-899X
2941-0916
Francke Verlag Tübingen
10.2357/VOX-2020-016
Es handelt sich um einen Open-Access-Artikel, der unter den Bedingungen der Lizenz CC by 4.0 veröffentlicht wurde.http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/121
2020
791 Kristol De Stefani

Paul-Henri Liard

121
2020
Eric Flückiger
vox7910351
343 Vox Romanica 79 (2020): 329-346 DOI 10.2357/ VOX-2020-014 averes (dar) de graça (o meu dinheiro)» (VC, II); «E porem se diz specialmẽte que este auia dar aos judeos.» (VC, II); «E forçadamente elles ouuer- dar testimunho e preeguar a verdade da resurreyçom do senhor vencedor da morte.» (VC, III); «e per todas as forças e potencias da alma se auia derramar .» (VC, III); «e que o nõ ouuesses descobrir e dizer aaquelles que o amam como o vos amaaes» (VC, III); «Nom vos foy a vos outorguado ou m-dado que ouesses aqueste prazer em escondido: e que o nõ ouuesses descobrir e dizer aaquelles que o amam como o vos amaaes» (VC, III); «Muyto mais sem cõparaçõ he a voõtade de todo auer desamparar e leixar que de leixar o que há» (VC, II); «E assy se forõ repartidos e preeguarõ as cousas que as gentes aui- entender. creer e fazer. e aquellas que auiam desejar .» (VC, III); «atees o dia da paixom empero nõ c-ta cõplidamẽte porque nõ era aĩda posto o senhor nas ma-os daquelles que o aui- despedaçar .» (VC, II); «por os inclinar mais que nõ parẽmẽtes singullarmẽte aaquellas cousas cuja presença se ha defijnr cõ aquesta vida.» (VC, III); «e as molheres fezerom saber aos apostollos a rresurreyçom de Christo a qual os apostollos auiam depois denũciar aos gẽtios.» (VC, III); «e na voõtade as dizer e mostrar o senhor» (VC, II); «por t-to quando ouuemos dizer o euangelho reuoluemonos cõtra o oriẽte» (VC, III); - a preposiç-o de confunde-se com a consoante d do início de uma palavra que está interposta entre o verbo haver e o verbo seguinte no infinitivo, numa falsa contraç-o: «E que ajadepoissemear diz ally o glosador» (VC, II); «E ajnda que Christo soubesse bem que auiadepoisseer ladrom.» (VC, II); «Nom ordenou deus aquelles que seruem ao eu-gelho que ouuessem delle auer riquezas nem ornamẽtos mas que viuessem» (VC, II); - a preposiç-o de está ausente, talvez devido à interposiç-o de outras palavras entre o verbo haver e o verbo no infinito: «nẽ foy cõujnhauel cousa que em outro lugar saluo aqui ẽ esta ouuesse toda vija começar as bẽ avẽtur-ças» (VC, I); «Porque o demo entendeo que os seus roubos lhe auiam per Christo seer tirados .» (VC, III); «Vergõça auiam elles seguyr de bestas e a cauallos ou carretas ho senhor que hya a pee.» (VC, II); - a preposiç-o de está ausente pelo facto de se ter dado um hipérbato, ou seja, a invers-o do verbo no infinito, que passa a anteceder o verbo haver : «ou porque nõ fezemos aquello que fazer auiamos .» (VC, I); - por último, a preposiç-o de está ausente sem uma explicaç-o lógica: «auia de seer aquelle de que auia fazer o sacrificio pascoal.» (VC, III); «o qual logo ofereçe e presenta per obra guareçẽdo o seu imijgoo que ouuera prender prouoc-do e enduzẽ do per aquesto os imijgoos que o perseguyam que tornassem aa fe.» (VC, III); «E por t-to nem a virgem Maria. nem alguũ dos amgeos ou homẽs nom foy autoridade dada. que ouuesse auer quinhom nem seer companheyro em aquello» (VC, III); «Oo quanto medo ouuer- os discipollos. nõ sabendo como. nẽ para onde auiam hir .» (VC, III); «mais graue emp er o lhe era auersse partir delle» (VC, III); «E atraher assy o merito e satisfaçom de Christo t- deuotamente. que ajnda que mil -nos ouuesse jazer no purguatorio em pouco tempo seria purguado de todo (VC, A perífrase verbal com haver + de + infinitivo na traduç-o portuguesa da Vita Christi José Barbosa Machado 344 Vox Romanica 79 (2020): 329-346 DOI 10.2357/ VOX-2020-014 III); «aquello nõ era justo de sse fazer nẽ que ouuessem viuer os maaos que toru- as carreiras dereytas do senhor» (VC, III); etc. Um outro fenómeno é a substituiç-o da preposiç-o de pela preposiç-o a , fenómeno que também ocorre noutros textos em português antigo e médio (cf. B rocardo 2015: 43). Identificámos dois casos: «(E pregũtoulhe por a sua doctrina.) nom com voontade nem amor que ouuesse a conhoçer a verdade» (VC, III); «e a pascoa dos judeus e por mostrar o desejo que auia a comprir se a ley antigua.» (VC, III). Identificámos dois casos em que o verbo haver é antecedido pelo verbo dever , numa redundância perifrástica. No primeiro caso, o verbo dever antecede imediatamente o verbo haver no infinitivo: «nõ a deues auer de seguir a deus que he mayor que o homẽ o qual se quise humildar? » (VC, III). A construç-o esperada seria deues de seguir segundo o uso mais comum na obra, estando o verbo haver a mais. No outro caso, o verbo dever vem seguido da preposi-o de , tal como é uso na obra, e depois do verbo haver , mas resultando numa construç-o bastante complexa: «por tam triste e por tam torpe cousa pera nos que deuemos de auer de nos louuarem os maaos» (VC, I). Nos dois últimos contextos apresentados, podemos constatar que o verbo principal da perífrase ( reçeardes e louuarem ) se encontra no infinitivo pessoal, o que é bastante irregular. De facto, o uso comum na língua portuguesa é o verbo no infinitivo impessoal, ou n-o flexionado, como refere a Lzamora 2018: 24. Identificámos apenas mais um caso, este com o verbo dar : «e que nom ouuessem os preeguadores spaço de darẽ mantijmento aos corpos desembarguadamente.» (VC, I). 6. Conclus-o A perífrase verbal com haver + de + infinitivo tem uma presença significativa na traduç-o portuguesa da Vita Christi , sendo uma das mais frequentes na obra. A sua funç-o é modal e pode expressar intenç-o, resoluç-o, certeza, futuro modalizado, ou obrigatoriedade. Constatámos que a perífrase ocorre de uma forma uniforme em toda a obra, havendo em média 1,2 ocorrências por página. As Partes II (vol. II) e as Partes III e IV (vol. III) têm um número ligeiramente superior de ocorrências em relaç-o à Parte I (vol. I). A diferença é de 2,69% para a Parte II e 3,31% para as Partes III e IV. Mais constatámos que os tradutores deram preferência a perífrases em que o verbo auxiliar haver se encontra no presente do indicativo e no pretérito imperfeito do indicativo, sendo mais de 75% do total das ocorrências. No contexto da oraç-o, verificámos que mais de metade das perífrases dependia ou de uma oraç-o relativa com que , ou de uma oraç-o completiva com que . Neste último caso, o verbo com maior presença na obra a exigir a oraç-o completiva é o verbo dizer , estando dentro do uso normal da língua portuguesa. 345 Vox Romanica 79 (2020): 329-346 DOI 10.2357/ VOX-2020-014 Por fim, identificámos alguns casos particulares: o uso da perífrase sem a preposiç-o de ( haver + infinitivo); a substituiç-o da preposiç-o de pela preposiç-o a ( haver + a + infinitivo); o reforço da perífrase pela anteposiç-o do verbo dever , resultando numa redundância; e a presença de contextos em que o verbo principal se encontra flexionado no infinitivo pessoal, contra o uso normal e convencionado pelos gramáticos para a perífrase. Fica de fora deste estudo, devido à sua extens-o, a análise semântica dos contextos, para verificar aqueles em que vêm expressas as ideias de intenç-o, resoluç-o, certeza, futuro modalizado, obrigatoriedade ou outras. Bibliografia a Lzamora , H. I. 2018: As Perífrases Verbais no Português Europeu Contemporâneo . Universidade Nova de Lisboa/ Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Dissertaç-o de doutoramento B arroso , H. 2000: «Das perífrases verbais como instrumento expressivo privilegiado das categorias de natureza temporo-aspectual e simplesmente aspectual no sistema verbal do português de hoje», in: E. G ärtner / C. h undt / A. s chönBerGer (ed.), Estudos de Gramática Portuguesa (III) , Frankfurt am Main: 91-103 B rocardo , M. T. 2015: «Gramática e texto em diacronia - Haver (mais-que-perfeito simples) de + infinitivo em duas crónicas de Zurara», Estudos Linguísticos/ Linguistic Studies 10: 39-47 c ardeira , E. 2005: Entre o Português Antigo e o Português Clássico , Lisboa c ardeira , E. 2006: O Essencial sobre a História do Português , Lisboa c astro , I. 2006: Introduç-o à História do Português , 2 a ed., Lisboa c osta , A. de j esus da 1992: Estudos de Cronologia: Diplomática, Paleografia e Histórico-Linguísticos , Porto L iere , A. 2011: Entre Lexique et Grammaire: Les Périphrases Verbales du Français . Université du Littoral Côte d’Opale: HAL. Tese de doutoramento m achado , J. B arBosa 2019: Vita Christi de Ludolfo de Saxónia: Introduç-o, Ediç-o e Notas . Vols. I, II e III. 6. ª ed., Braga n ascimento , A. a ires 1999: «A traduç-o portuguesa da Vita Christi de Ludolfo da Saxonia: obra de príncipes em ‹serviço de Nosso Senhor e proveito comum›», Didaskalia 29: 563-87 n ascimento , A. a ires 2001: «A Vita Christi de Ludolfo de Saxónia, em português: percursos da traduç-o e seu presumível responsável», Euphrosyne 29: 125-42 q ueirós e ça de 2019: Os Maias , Lisboa s aramaGo , J. 1992: Memorial do Convento , 21. a ed., Lisboa s quartini , M. 1998: Verbal Periphrases in Romance. Aspect, actionality, and grammaticalization, Berlin/ New York t oLedo n eto , S. de a Lmeida 2017: «Dois fragmentos eborenses da Vita Christi : qual o seu lugar na tradiç-o da obra? », Revista da ABRALIN 16/ 1: 223-38 t orreGo , L. G. 1999: «Los verbos auxiliares. Las perífrasis verbales de infinitivo», in: I. B osque / V. d emonte (dir.), Gramática Descriptiva de la Lengua Española , Madrid: 3323-89 A perífrase verbal com haver + de + infinitivo na traduç-o portuguesa da Vita Christi José Barbosa Machado 346 Vox Romanica 79 (2020): 329-346 DOI 10.2357/ VOX-2020-014 The verbal periphrasis haver + de + infinitive in the Portuguese translation of Ludolph of Saxony’s Vita Christi Abstract: With this study we intend to identify all occurrences of haver + de + infinitive periphrasis in the Portuguese printed edition of Vita Christi (Lisbon, 1495). These are the most common auxiliary verb tenses, the infinitive main verbs and the connectors that precede it. We will also refer to some particular cases, such as the use of periphrasis without the preposition de and the flexion of the main verb. As a corpus for this study, we used the Portuguese translation of Vita Christi by Ludolph of Saxony (c. 1295-1377), printed in Lisbon in 1495 by the German printers Valentino de Moravia and Nicholas of Saxony. The work, in three volumes, is composed of four parts that narrate the evangelical life of Christ, with a series of theological and moral reflections much to the taste of the time. Due to its length (1173 pages of text printed in two columns), the linguistic representation of two different moments (the translation in the early 15 th century, and the printing at the end of the same century) and the impact it had on the culture of the time (the translation and printing of the work were protected by kings and queens), Vita Christi is one of the most important written testimonies to study 15 th century Portuguese language. Keywords: Periphrasis, Periphrastic conjugation, Modal function, Verb haver , 15 th century Portuguese language Vox Romanica 79 (2020): 347-350 DOI 10.2357/ VOX-2020-015 Germán Colón Doménech 30 novembre 1928 - 20 mars 2020 Rolf Eberenz (Lausanne) Germán Colón, romaniste éminent et l’un des meilleurs connaisseurs de l’histoire des langues de la Péninsule Ibérique, est décédé à Barcelone en mars de cette année. Né à Castellón de la Plana en 1928, il s’est dès son enfance senti interpellé par le bilinguisme de son pays natal, l’ancien Royaume de Valence, une des régions autonomes de l’Espagne actuelle où le conflit sociolinguistique entre l’espagnol et le catalan est particulièrement âpre. Il a fait des études de philologie hispanique à l’université de Barcelone, ayant comme maîtres des intellectuels de la taille d’Antoni Badia i Margarit ou de Martín de Riquer. 1952 est l’année de son doctorat avec une thèse sur le parler de sa ville natale. Par la suite, et grâce à une bourse, Germán Colón poursuit ses études aux universités de Louvain et de Zurich. Et puis, il fait la connaissance de Walther von Wartburg, professeur à l’université de Bâle et en même temps initiateur et directeur du Französisches Etymologisches Wörterbuch (FEW) , à l’époque en cours de rédaction . Cette rencontre sera décisive pour sa carrière professionnelle et pour sa vie privée, puisqu’il restera à Bâle pour de longues années et y fondera sa famille. Sa collaboration au FEW lui a permis d’approfondir ses connaissances en documentation philologique et de s’initier à la conception rigoureuse qui caractérisait ce dictionnaire. Il les appliquera bientôt avec enthousiasme à ses recherches sur l’histoire du lexique espagnol et catalan. Pour ce faire, et dans l’impossibilité de fréquenter les bibliothèques de son pays, il a commencé à constituer une copieuse collection privée de textes anciens écrits dans ces deux langues. Or, en 1954 a paru le Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana de Joan c orominas . Germán Colón a d’abord cru que la plupart des problèmes de la lexicologie historique de l’espagnol étaient désormais résolus. Mais il s’est bientôt rendu compte que tel n’était pas le cas, étant donné que Corominas avait travaillé avec une méthodologie bien différente de celle que suivaient von Wartburg et son équipe. Colón s’est alors mis à rédiger patiemment et avec une grande rigueur une longue série d’articles sur des problèmes lexicaux et textuels très pointus, mais importants pour l’histoire de l’espagnol et du catalan, des travaux qui impressionnent jusqu’à l’heure actuelle par leur documentation fouillée et par la justesse des analyses. Il lui arrivait parfois de critiquer les interprétations de Corominas, ce qui lui a valu une solide inimitié de ce dernier, manifeste surtout dans certains articles du Diccionario crítico etimológico castellano e hispánico de c orominas (1980-1991), une version augmentée de son ouvrage. Colón pratiquait une linguistique historique d’orientation résolument philolo-